Epilepsia e violência – não existe associação causal.

Risco de Crime Violento em Pessoas com Epilepsia e Lesão Cerebral Traumática: Um Estudo de 35 Anos da População Sueca

Seena Fazel1,2, Paul Lichtenstein3, Martin Grann2,3,4, Niklas Långström2,3,4

1 Department of Psychiatry, University of Oxford, Warneford Hospital, Oxford, United Kingdom, 

2 Centre for Violence Prevention, Karolinska Institutet, Stockholm, Sweden, 

3 Department of Medical Epidemiology and Biostatistics, Karolinska Institutet, Stockholm, Sweden, 

4 Swedish Prison and Probation Service, Norrköping, Sweden

Contexto

Epilepsia e lesão cerebral traumática são doenças neurológicas frequentes, sendo as prevalências na população geral calculadas em 0,5% e 0,3%, respetivamente. Embora ambas as doenças estejam associadas a vários desfechos desfavoráveis e haja opiniões especializadas que sugerem haver aumento de criminalidade, a relação com comportamentos violentos permanece incerta.

Métodos e resultados

Fizemos a revisão dos registos da população sueca de 1973 a 2009 e procurámos associações de epilepsia (n = 22947) e lesão cerebral traumática (n = 22914) com crime violento subsequente (definido como condenações por homicídio, assalto, roubo, fogo posto, agressão sexual, ameaças ilegais). Cada caso foi comparado com dez controlos da população geral e analisado usando regressão logística condicional ajustada a fatores sociodemográficos. Além disso, comparámos casos com irmãos/irmãs não afetados. Entre os casos de lesão cerebral traumática, 2011 indivíduos (8,8%) cometeram crimes violentos após o diagnóstico, o que, comparado com os controlos populacionais (n = 229118), correspondia a um risco substancialmente aumentado (odds ratio ajustado [aOR] = 3,3. 95% CI: 3,1-3,5); este risco estava atenuado quando os casos eram comparados com irmãos/irmãs não afetados (aOR = 2,0. 1,8-2,3). Entre os indivíduos com epilepsia, 973 (4,2%) cometeram ofensas violentas após o diagnóstico, correspondendo a uma probabilidade significativamente aumentada de crime violento quando comparada com 224006 controlos da população (aOR = 1,5. 1,4-1,7). Contudo, esta associação desaparecia quando os indivíduos com epilepsia eram comparados com os seus irmãos/irmãs não afetados (aOR = 1,1. 0,9-1,2). Encontrámos heterogeneidade no risco de violência em função da idade de início da doença, gravidade, comorbilidade com abuso de substâncias e subgrupos clínicos. A confirmação dos casos restringiu-se aos processos clínicos.

Conclusões

Neste estudo longitudinal de base populacional encontrámos que, após ajuste para confundentes familiares, a epilepsia não estava associada com risco aumentado de crime violente, pondo em dúvida opiniões de peritos que sugeriam uma relação causal. Em contraste, embora houvesse atenuação do risco calculado após ajuste fatores familiares e abuso de substâncias, em indivíduos com lesão cerebral traumática verificou-se um risco significativamente aumentado de crime violento. As consequências destes achados serão diversas para os serviços clínicos, sistema criminal de justiça e associações de doentes.

Ver artigo original publicado em 27 de dezembro de 2011 na Public Library of Science Medicine aqui

Tradução espontânea de RA