7 de Dezembro de 2020
A Morte Súbita Inesperada em Epilepsia (Sudden Unexpected Death in Epilepsy – SUDEP) ocorre quando uma pessoa com epilepsia morre inesperadamente, quando previamente se encontrava no seu estado habitual de saúde, e esta morte não é secundária a acidentes traumáticos ou asfixiantes, nem consequência de estado de mal epilético. Quando é realizada uma autópsia, não se encontra outra causa de morte.
Qual é a frequência da SUDEP?
Cada ano, mais de 1 em cada 1000 pessoas adultas com epilepsia morre de SUDEP. A SUDEP é rara em crianças.
Qual é a causa da SUDEP?
A causa da SUDEP é desconhecida. A maior parte dos casos de SUDEP ocorre durante ou após uma crise epilética, maioritariamente no período noturno. Contudo, pode ocorrer na ausência de crises epiléticas. Pensa-se que alterações na respiração, ritmo cardíaco ou função de áreas vitais do cérebro, decorrentes da crise epilética, poderão estar envolvidas.
Quem está em maior risco de SUDEP?
O fator de risco mais importante é a presença de crises tónico-clónicas generalizadas (convulsões) frequentes ou não controladas. Outros fatores de risco possíveis são crises epiléticas noturnas, diagnóstico de epilepsia em idade jovem ou epilepsia com muitos anos de evolução. Falhar a medicação e consumir álcool podem piorar o controlo das crises e aumentar também o risco de SUDEP.
O risco é o mesmo para qualquer tipo de crise?
As crises tónico-clónicas generalizadas (convulsões) estão associadas a um maior risco de morte súbita. Contudo, o mau controlo de outros tipos de crise aumenta o risco de progredir para crises tónico-clónico generalizadas, que por sua vez aumentam o risco de morte súbita. Portanto, uma boa adesão terapêutica evita progressão para crises de maior gravidade e indiretamente reduz o risco de SUDEP.Apesar da SUDEP ser menos frequente nas crianças, há determinadas síndromes epiléticas associadas a atraso do desenvolvimento, com maior risco de morte quando há crises de difícil controlo (por exemplo a síndrome de Dravet).
Ter outras doenças aumenta o risco de SUDEP?
Não há grande evidência sobre esta temática. Alguns estudos dizem que algumas doenças que predispõem a arritmias cardíacas, como a doença coronária, a síndrome de apneia obstrutiva do sono ou a síndrome do QT longo, podem contribuir para o risco de SUDEP. Em caso de dúvida, fale com o seu médico, de forma a saber se o rastreio de problemas cardíacos está indicado.
Como posso reduzir o risco de SUDEP?
As medidas preventivas consistem no controlo das crises epiléticas (o principal fator de risco), na minimização de outros fatores de risco e preparação para o reconhecimento e atuação perante uma crise
Evite desencadeantes das crises, sendo que uma boa higiene de sono, reduzir o consumo de álcool e não utilizar drogas são medidas gerais recomendadas.
A atuação mais importante resulta da redução do número de crises epiléticas. Tome sempre a medicação conforme recomendado. Vá regularmente ao médico assistente sobretudo se as crises não estiverem controladas.
A família e outras pessoas próximas devem conseguir reconhecer crises e saber qual os cuidados a ter. Em caso de dúvida, pergunte ao seu médico que instruções deve dar à sua família e amigos.
Quais as crises que devem suscitar mais atenção?
Não há forma de predizer quais as crises que se associam com morte súbita, nem qual o desencadeante quando isso acontece. Como a SUDEP ocorre mais frequentemente à noite, pessoas com crises noturnas frequentes podem preferir partilhar um quarto com alguém que as possa auxiliar em caso de necessidade. Não se afaste de alguém que está a ter uma crise até a pessoa estar acordada e a respirar normalmente, e vá controlando o tempo pelo relógio. Coloque a pessoa em posição lateral de segurança e garanta que está a respirar normalmente. Se tiver prescrito aplique medicação SOS (habitualmente diazepam retal ou midazolam intrabucal). Se a crise durar mais de 5 minutos, a pessoa não acordar ou tiver dificuldade respiratória contacte a emergência médica (112).
Referências:
– Harden C, et al, Practice guideline summary: Sudden unexpected death in epilepsy incidence rates and risk factors: Report of the Guideline Development, Dissemination, and Implementation Subcommittee of the American Academy of Neurology and the American Epilepsy Society. Neurology. 2017 Apr 25;88(17):1674-1680. – Scorza FA, et al,. Sudden unexpected death in epilepsy: Rethinking the unthinkable. [Editorial] Epilepsy Behaviour. 2019 Apr;93:148-149.