J Med Ethics. 2012 Mar 19.
O peso da normalidade: de ‘cronicamente doentes’ a ‘livres de sintomas’. Novos desafios éticos para o tratamento pós-operatório com estimulação cerebral profunda.
The burden of normality: from ‘chronically ill’ to ‘symptom free’. New ethical challenges for deep brain stimulation postoperative treatment.
Gilbert F.
Resumo
Embora seja uma intervenção médica invasiva, a Estimulação Cerebral Profunda (ECP) tem sido encarada, nos últimos 20 anos, com um tratamento eficiente e seguro da doença de Parkinson. Do ponto de vista ético, vale a pena perguntar se o uso da ECP poderá ter efeitos negativos imprevistos semelhantes aos associados com outros tipos de psicocirurgia. Estudos clínicos em doentes epiléticos que fizeram lobectomia temporal anterior têm identificado uma variedade de efeitos secundários num certo número de domínios: psicológico, comportamental, afetivo e social. Em muitos casos, os doentes mostraram dificuldade em aceitar a passagem de cronicamente doentes para o seu novo estado de ‘tratado’ ou ‘livre de crises’. Esta adaptação à resposta pós-operatória tem sido descrita na literatura sobre epilepsia como o síndromo do ‘peso da normalidade’. A maioria dos debates sobre as modificações pós-operatórias induzidas pela ECP no eu está centrada nos efeitos colaterais anormais causados pela intervenção (como sejam o hipersexualismo, a hipomania, etc.). Em contrapartida, tem sido dada relativamente pouca atenção ao facto de os indivíduos ‘tratados’ com sucesso sentirem provavelmente dificuldades na adaptação ao tornarem-se ‘normais’. O objetivo deste artigo é (1) integrar o processo de adaptação psicossocial pós-operatório da ECP no contexto do síndromo do ‘peso da normalidade’, (2) saber se o síndromo do ‘peso da normalidade’ demonstra que a ECP constitui uma ameaça à identidade do doente e (3) verificar se as redes de reabilitação após procedimentos de ECP deveriam ser revistas e ter em conta o síndromo do ‘peso da normalidade’ como uma resposta pós-operatória modificadora do eu.
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